Passado o choque inicial mais agudo da pandemia, as negociações coletivas que usam programas do governo para a manutenção do emprego vão se tornando residuais, mas, sob a ótica dos trabalhadores, elas encontram novo desafio: a inflação.
Em agosto, não houve reajuste mediano real dos salários negociados entre patrões e empregados e quase metade das negociações, na verdade, não conseguiu nem repor as perdas, aponta o Boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Com um índice de preços crescente, a previsão é de pouco espaço para ganhos nas próximas datas-base também.
“Tínhamos uma expectativa de inflação decrescendo, então esperava reajustes reais dessa vez, mas a inflação deu uma disparada, o arroz, a soja, a carne”, afirma Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-SUP) e coordenador do Projeto Salariômetro. Em julho, os trabalhadores conseguiram ligeiro ganho real, de 0,1% e, no mês anterior, de 0,4%.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como base na mesa de negociação, acumulou 2,7% nos 12 meses até julho (mês referência), mesmo reajuste nominal de salários oferecido em agosto. “O INPC é a inflação para as famílias com renda de até cinco salários mínimos, e aí a alimentação pesa muito. A inflação dos trabalhadores foi maior que a da classe média ou a das classes mais altas”, diz Zylberstajn.
Fonte: https://valorinveste.globo.com/