STIQUIFAR

Stiquifar faz reflexão sobre a história do Dia do Trabalhador


Na postagem consta a fotografia do excelente fotógrafo Pedro Martinelli no dia 01/05/1970 em uma reunião de trabalhadores no Parque Antártica/SP. Hoje dia 01/05/2020, estamos cada vez mais distantes do efetivo reconhecimento do trabalhador. 

Digo trabalhador, de forma pura, sendo aquele que vende a sua força de trabalho por um determinado valor, seja funcionário público ou da iniciativa privada. Já há alguns anos e cada vez de forma mais incisiva o “capital” vem fantasiando a “humanização” do “trabalho”.

 A palavra “trabalhador” vem sendo substituída pouco a pouco por “colaborador”. Por quê? É mais cool (uso a expressão em inglês, pois quem chama, de forma CONSCIENTE, o trabalhador de colaborador adora citar termos na mesma linha dentro das relações corporativas: briefing, feedback, change, etc…). Ocorre que quem colabora não pode ser submisso na relação de trabalho… necessita de ter voz… precisa influenciar a tomada de decisões, senão não é colaboração… é apenas venda da força de trabalho. 

Não vamos adentrar em exceções (que são a minoria) como participação ativa nas decisões da empresa pelos cargos mais altos ou empresas familiares, etc… vamos nos limitar ao “chão da fábrica”. E é neste chão da fábrica que a “cultura da colaboração” vem sendo implantada de forma singela, quase imperceptível, cuidadosa… muitas vezes até de forma inconsciente, considerando que a aprendizagem dos conceitos inicia na própria faculdade ao direcionar o foco do ensino para parte técnica, necessitando demonstrar as inovações nos conceitos e o que o mercado (capital) necessita, desprezando o aspecto humano. 

Dias atrás, um trabalhador, de uma empresa da região, com aproximadamente 25 anos de trabalho na mesma empresa, que era chamada de colaborador foi dispensado no dia do aniversário com o seguinte comunicado: “você não atende o perfil da empresa.”. Observe que a frase não foi “você não atende MAIS o perfil da empresa”. 

Demorou 25 anos para descobrir que o colaborador não tem o perfil da empresa? Se ele tanto colaborou por qual razão dispensá-lo no dia do aniversário? Efetivamente nunca houve colaboração, apenas venda da força de trabalho que certamente já não atendia a agilidade que o CNPJ necessita no mercado, e como recompensa pelos 25 de trabalhos realizados optou por dispensá-lo no dia do aniversário e substituí-lo por outro CPF mais novo. 

O capital até tenta disfarçar seus interesses, mas cedo ou tarde a verdade vem a tona. Enquanto fantasiamos os trabalhadores de colaboradores, pouco a pouco os trabalhadores estão sendo substituídos por rôbos, sem nenhum planejamento para amparar os trabalhadores que estão sendo marginalizados. Tomemos como exemplo o setor bancário, com a modernização dos aplicativos e oferta de serviços pelo celular, vem dispensando ano após ano seus “colaboradores” para usar a tecnologia para colaborar com a busca pelo lucro. 

A quantidade de trabalhadores de TI para dar suporte ao sistema tecnológico é infitinitamente inferior aos que estão sendo dispensados, então seria leviano dizer que os postos de trabalho estão sendo apenas substituídos. É natural que ocorra a modernização das relações de trabalho, e aplicação da tecnologia, mas qual o planejamento para realizar essa transição sem marginalizar os cidadãos? E não vamos nos enganar com Adam Smith para dizer que a mão invisível do mercado vai realizar a autorregulação… a falência desse modelo de liberalismo está escancarada em tempos de pandemia COVID-19, na qual nunca se viu o capital implorando por um Estado Forte (que antes suplicava pelo Estado Mínimo) para não quebrar a economia. 

Por fim, desnecessário se perder na divagação que a legislação de Vargas é engessada e que as coisas funcionam apenas nos outros países (Estados Unidos, etc…). Não podemos fazer a comparação apenas com a medida de nossa régua. É preciso analisar as formas de colonização dos países… é preciso entender a gestação étnica do POVO BRASILEIRO como, por exemplo, fez Darci Ribeiro em 1995 ao publicar a obra “O povo brasileiro” e se autoquestionar naquela época “Por que o Brasil ainda não deu certo?” (aliás o livro é bibliografia básica do Instituto Rio Branco, e Ernesto de Araújo deveria reler para falar menos atrocidades na representação exterior do Brasil. 

Nota-se que nosso Ministro das Relações Exteriores não tem boa capacidade de interpretar ao ser advertido pelo autor Slavoj Zizek sobre a interpretação equivocada de sua obra). Enfim, necessitamos, com urgência de abandonar a glamourização do conceito de trabalhador. Necessitamos, ainda, deixar de romantizar o desgaste do trabalho nas redes sociais. Proletarier aller Länder, vereinigt euch! Dia do Trabalho – 


Dr. Daniel de Oliveira Guimarães
* Assessor jurídico do Stiquifar (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Uberaba e Região)