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MESMO COM EMPREGADOS CONTAMINADOS, VALE MANTÉM OPERAÇÃO E AGLOMERAÇÕES EM MINAS


RESPONSÁVEL PELOS DOIS MAIORES crimes socioambientais da história do Brasil, os rompimentos das barragens de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019, que mataram 289 pessoas, a Vale agora coloca em risco a população do Pará e de Minas Gerais ao não paralisar suas atividades em meio à crise do novo coronavírus.
A atitude contrasta com a que a própria empresa tomou em outros países em que atua. A mineração não faz parte da lista de atividades essenciais definida em decreto do governo federal. Quer dizer – a opção por obrigar milhares de funcionários a se encontrarem e trabalharem durante a pandemia é exclusiva da Vale.
Pelo menos dois dos 55 mil funcionários da mineradora estão infectados pelo novo coronavírus, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Mas quem atua nas minas segue trabalhando em todo o Brasil como se não houvesse uma pandemia se alastrando pelo país. Apenas parte dos funcionários de áreas administrativas tiveram a permissão para trabalhar de casa.
No Complexo de Carajás funciona a maior exploração de minério de ferro do mundo, encravada na floresta amazônica. É gente que vai e vem de vários estados do Brasil. Apesar da emergência do novo coronavírus, a atividade segue a todo vapor. E não só ali.
Vídeos e fotos obtidos pela reportagem mostram empregados e terceirizados da Vale aglomerados e em contato direto no Complexo de Carajás. Se há de fato medidas sendo tomadas pela empresa para minimizar riscos, elas não estão fazendo efeito algum.
Os registros foram feitos nesta segunda e terça no Corredor Norte da Vale no Pará, que inclui as operações S11D, Carajás, Salobo 3 e Sossego, em Marabá, Parauapebas e Canaã. Com a atividade correndo normalmente, 24 horas por dia, ônibus correm pelas estradas transportando trabalhadores entre os alojamentos lotados e o trabalho.
Eu conversei com Evaldo Fidelis, um operador de equipamentos da Vale na Mina de Carajás. Ele avalia que as medidas tomadas pela empresa, como reduzir os passageiros nos ônibus, são absolutamente ineficientes diante do risco que o coronavírus representa numa região de difícil acesso e com estrutura de saúde precária.
“O Complexo Carajás é muito dinâmico. Você tem pessoas de vários estados do Brasil e de vários lugares do mundo trabalhando e circulando. A maioria dos funcionários é de Parauapebas, inclusive das comunidades rurais que não têm nenhum suporte. Se o vírus chegar, vai ser uma tragédia”, conta. Até a quarta à noite, o Pará tinha sete casos confirmados de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus – um deles em Marabá, onde fica o projeto de expansão de Salobo 3Parauapebas tem 26 casos suspeitos, e Canaã dos Carajás, dois.