Barragem que se rompeu tinha fator de segurança abaixo do mínimo necessário
Divulgação/ALMG/Luiz Santana
E-mails trocados por dirigentes da Tüv Süd em maio de 2018 dão indícios de que a Vale teria chantageado a companhia para que atestasse a estabilidade da barragem de Brumadinho, que se rompeu há nove meses. Em troca, a mineradora assinaria outros contratos com a empresa alemã. Segundo as investigações, um deles, no valor de R$ 10,5 milhões foi assinado no mesmo mês em que a Tüv Süd atestou a estabilidade da barragem.
A DCE (Declaração de Condição de Estabilidade) é um documento que precisa ser atestado por uma empresa de auditoria externa, como é o caso da Tüv Süd, para que os órgãos governamentais, como a Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) e a ANM (Agência Nacional de Mineração) possam liberar a operação no local.
Um diálogo em 15 e-mails trocados por engenheiros, consultores e diretores da empresa alemã dá indícios de que a Vale faria chantagem (citada no email por sua tradução, em inglês, “blackmail”) usando um outro contrato que vinha sendo negociado com a empresa.
Os documentos constam no livro “Brumadinho: A Engenharia de um Crime”, dos jornalistas Murilo Rocha e Lucas Ragazzi, lançado nesta semana em Belo Horizonte.
“De acordo com informações do Ministério Público do Minas Gerais, o projeto de As Is foi contratado pela Vale junto à Tüv Süd no mesmo mês da emissão da Declaração de Condição de Estabilidade da barragem I, com coeficiente de segurança de 1,09, pelo valor de R$ 10,5 milhões”, diz trecho da obra.
Institucional
A mesma troca de e-mails também demonstra que funcionários da consultoria tinham dúvidas a respeito da estabilidade da barragem, cujo fator de segurança era 1,09 e o mínimo exigido conforme critérios internacionais, era 1,30.
Em uma mensagem enviada no dia 13 de maio de 2018, o consultor e dirigente da empresa Arsênio Negro Júnior diz para o coordenador de projetos Makoto Namba que esse caso (a assinatura da DCE) deveria ser decidida institucionalmente pela empresa. “Entendo que o Chris estará no escritório amanhã. Devemos mostrar à ele e pedir para opinar”.
Chris, a que se refere Arsênio Negro Júnior na mensagem é Chris Peter-Meier, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Tüv Süd, na Alemanha. Não se sabe, pela troca de mensagens dos e-mails, se o executivo alemão foi perguntado sobre o assunto e, se sim, qual foi a resposta dada. No entanto, Peter-Meier foi um dos indiciados pela Polícia Federal no primeiro inquérito concluído pela corporação.
A reportagem entrou em contato com a Vale, que se limitou a dizer que o posicionamento sobre as informações reveladas no livro está incluído no livro.
Fonte: R7